31/05/2013

As músicas do John Mayer não inspiram mais

Acho que estou farta de falar só da guerra do nosso dia-a-dia, só da tragédia instaurada muito antes da gente nascer e que não vai terminar depois que a gente termine. Estou farta de ver gente vazia com a boca tão cheia de asneiras e pedidos mentirosos de perdão. Cansei, por algum tempo que desconheço a contagem, de não falar do amor, das pessoas e das coisas boas dos dias. Quero falar sobre o amor, sobre como amar, sobre os erros do amor, projetar sobre seus acertos e esquecer um pouco das bombas que explodem e destroçam. Mesmo que as músicas do John Mayer não inspirem como antes.
   
   

30/05/2013

Carta

Encontre alguém para quem você possa dizer isso:


Hoje, muito mais, muito mesmo, que antes estou pronta para te encontrar. Te encontrar sem mesmo talvez nunca ter conversado mais que algumas horas com você. Sem talvez não saber o nome dos teus pais e se tem irmãos.Sem talvez não reconhecer por agora teu extremo valor na contagem dos dias. Já não sei, já errei tanto que tenho medo de não te acertar. Mesmo que eu cogite que você está vindo na hora atrasada, mesmo que eu cogite que você nunca chegue. Te entregar todo o tipo de amor que sinto, todo o tipo de bom sentimento que dá pra depositar em um coração aberto. Sem aquela velha ilusão que o amor só garante dias bons, porém sem esquecer, que graças a ele a gente pode passar pelos grandes desertos ou nas mínimas tempestades, juntos. Juntos em conjunto de dois que são um. Acreditar, por mais bobo que seja, que todos os erros foram justificativas furadas para responderem a forma que um não encaixa exato no outro e que ninguém foi feito exatamente pra ninguém, mas que a gente pode querer seguir um mesmo caminho. Que a tua entrada na história seja como um violão que sozinho começa uma música e depois os outros instrumentos começam a tocar, e um pouco depois a tua voz rompa o solo instrumental. Sei que vou te aceitar junto com teus segredos, junto com o limite de se permitir a sentir saudades, aquele limite bom de não estar sempre e a todo momento juntos. E que as outras lembranças sejam apenas outras lembranças. Suficientemente descobrir que há sempre uma história para ser lida e escrita todos os dias. Uma história que a gente escreve e não apaga, que aquece os dias frios e refresca os quentes. Uma história na qual cabe os erros, os acertos, os pedidos atrapalhados de perdão, os atrasos para chegar em uma festa. Dias de chuva e beijos molhados. Dias com as distrações mais infantis, com apelidos ditos ao pé do ouvido, com tardes perdidas dentro de uma livraria abrindo e lendo apenas trechos de livros ridículos. Uma vida sedentária na correria dos nossos dias apertados.Você não pode ser atrapalhado em demasia, já bastam as minhas topadas do dedo mindinho no canto da estante da sala. Ok, se você também tem histórico de topadas do dedo mindinho, a gente ri junto das nossas pequenas desgraças cotidianas. 
Escutar músicas de amor e lembrar de você. Ver filmes românticos e não encontrar lá o nosso roteiro. Ler histórias de amor e não encontrar lá a nossa. Mas olhar no coração e descobrir teu nome escondido nele. 
Ser doce e azedo. Ser triste e alegre. Ser cheio e vazio. Ser completo e incompleto. Encher o tanque e esvaziá-lo em passeios por ruas desertas, em corridas no mercado, em maratonas de filmes embaixo das cobertas. Ser do tipo a primeira pessoa que vem no teu pensamento e a última antes de fechar os olhos para dormir. Te chamar saudade e te encontrar em um abraço. Viver e morrer todos os dias de amor. Cuidar e proteger. Amar e respeitar. Brigar e pedir paz. Dar o nó na gravata, borrar o batom antes da festa começar. Contar moedas e juntar dinheiro para fazer brigadeiro. E nunca, nunca esquecer de viver tudo que temos para viver, tudo que temos para contar e ser tudo infinito enquanto dure, e se for durar por toda a vida, que seja com você.