29/08/2013

Poesia?

Todo aquele que parte reparte uma parte de quem fica.
Todo aquele que chega renova aquele que encontra.
Todo aquele que dissipa a distância encontra e descansa em braços, mãos, caricias, carinhos e beijos.
Todo aquele que espera descansa e continua caminhando.
Toda casa arrumada, com cheiro de lavanda e cortinas esvoaçantes, espera visita.
Todo sorriso espera morada.
Toda a certeza procura argumento.
Toda poesia desesperadamente quer um leitor.
Todo ciclo completado recicla.
Todo caminho dá aos pés chão.
Toda música silencia as redondezas da vida que vagarosamente passeia.
Todo aquele que encontra sente-se achado.
Todo aquele que silencia resguarda palavras.
Todo aquele que ama suporta.
Todo aquele que suporta continua.
Todo aquele que continua reaprende.
E todo aquele que nasce, pode até renascer, mas um hora morre.
Todo aquele que morre, permanece na lembrança, nos aromas, nas circunstâncias, no coração.
Poesia? Prosa? Vida.



12/08/2013

Até que ponto é errado gostar da pessoa errada?



Você provavelmente, assim como eu, já gostou da pessoa errada. Quem nunca? E quem nunca ficou questionando e revirando os pensamentos quanto a sensação do por que eu gostei daquela pessoa? Bem, tudo isso é comum, demodé e todo mundo tá cansado de falar e pensar, e de sentir a inevitável dor de muitas vezes lembrar. Quem nunca se sentiu um completo idiota ao falar com a pessoa amada? E se sentiu mais idiota ainda quando relembrou as coisas que disse e fez? Mas sabe, gostar da pessoa errada faz parte dos acertos da vida e dos aprendizados. Não acredito muito nessa história de alma gêmea, que existe alguém no mundo que foi criado especialmente para outra pessoa. Acredito em pessoas que se encontram, descobrem coisas em comum, coisas em divergência, compartilham juntos conversas gostosas, se descobrem companheiros e decidem partilhar a vida, histórias, sonhos e quem sabe uma vida inteira. Acredito que existe uma pessoa que fará todas as outras serem apenas outras pessoas, claro que acredito. Por mais burradas que eu já tenha feito, por mais pessoas erradas que eu já tenha gostado e me envolvido, ainda tenho a absoluta certeza que uma hora eu acerto e vou gostar de uma pessoa que seja certa, no momento certo, nas circunstâncias certas e da maneira que seja do tipo para toda vida. Quem sabe, eu e você, ainda vamos errar mais um cadinho, gostar de mais uma ou outra pessoa errada. Talvez por algum tempo a pessoa que possamos encontrar possa parecer realmente aquela que será certa pela vida toda, mas vai que a gente briga, vai que a gente se desencontra e novamente, eu e ele, voltamos a estaca zero. Não posso dizer sobre todos os caras que gostei que eles foram errados e eu a certa, quem sabe, eu fui a errada em todos os casos. Fui errada, impulsiva, mimadinha e coloquei chifre em cabeça de cavalo. Ok, posso ter confundido tudo, no entanto, em cada não, eu aprendi a ser melhor na próxima tentativa. Aprendi melhor sobre me relacionar e em não deixar num canto escondido do meu coração o que eu sentia. Aprendi a ser franca quanto ao que eu sentia, as minhas sensações quanto ao outro sempre foram reveladas e eu sempre sentava e tinha algo para escrever. Sim, eu ainda lembro das bobeiras que escrevi para os meninos que gostei, tenho primeiro uma vontade de enfiar a cabeça na parede, só que aí eu lembro que ao menos tentei. Nunca deu certo, mas eu tentei. Não tenho vergonha de dizer que nunca tive um namoradinho sério e quando eu gostava de alguém, eu gostava, me iludia, falava do sentimento e tomava na cara, sempre ouvindo aquele papinho "Ah, nós somos amigos, acho que você tá confundindo as coisas". Infelizmente para uns, acredito que uma grande maioria, isso geralmente acontece. Por mais noites de choro, músicas de fossa e aquela pontinha de "eu nunca mais vou sentir isso por outra pessoa", a gente supera. Lembro da minha última decepção- que de longe foi a pior em todos os sentidos, o que me fez superar foi quando eu entendi que existem muitas pessoas no mundo, superando coisas piores e mais profundas, até eu superei algo pior que foi a perda da minha mãe, o que seria um não do cara que eu gostava? No fim o que fica de toda decepção é o quanto você pode crescer com ela, amadurecer e perceber que as coisas não são exatamente do jeito que fantasiamos e que a nossa felicidade a princípio não pode depender de ninguém a não ser começar pela gente mesmo. Que antes de alguém te fazer feliz, você precisa se fazer feliz, sem que isso seja capítulo de um livro barato e qualquer de auto-ajuda. Infelizmente eu não posso te garantir que você vá encontrar a pessoa certa para o resto da vida ou que seja para apenas uma estação, nem eu tenho essa garantia. O que vale é não desistir, por mais vazio e sem amor que esse mundo pareça estar. Por mais fácil que seja garantir para os lábios beijos e para o corpo prazer, sendo que isso não seja necessariamente por inteiro verdadeiro, leal e completo. A realidade pode ser cruel, além de cruel, ela é devastadora, conheço muitas pessoas que por conta de coleções e amontoados de decepções deixaram de acreditar que podem amar e serem amadas, não discordo dessas pessoas, tenho medo de ficar assim, só que talvez por não aprenderem com os erros passados ou fecharem por demasia o peito deixam escapar as oportunidades de ser diferente. Ou não. Não sei se é totalmente errado gostar da pessoa errada, espero que há algo a ser aprendido, talvez não agora, mas talvez seja para reconhecer quem é certo ou excluir de vez aquele que mostrar os mesmos indícios do errado. No entanto, cada um é cada um, cada história possui duas possibilidades e como sempre me falaram o não você tem, busque o sim e se ele não vier entenda que você precisa aprender.    

03/08/2013

Ensaio sobre a saudade

Falta, claro que a gente sente falta, mas a gente prefere não falar. A gente prefere continuar a caminhar o novo caminho que esqueceu o velho, que empoeirou as antigas lembranças e fez passado o que não volta mais. Por mais que surja aquela louca vontade de relembrar, de voltar a acariciar os cabelos, aquela vontade estúpida que vem antes de dormir e faz revirar sentimentos e cobertas pela cama. E por mais que desapareça da vista, é complicado arrancar do coração. Na verdade não é complicado, é impossível, mesmo quando a saudade não é exatamente uma coceira confortável. Por mais que a gente supere a saudade, aquele tipo de saudade que provavelmente não volta mais, sempre fica um pedaço de falta, que presença nenhuma preenche. É como se certas saudades tivessem um encaixe só delas e isso as tornassem particulares, porém não menos, nem mais, doloridas. Independente do tipo, toda saudade dói. Todo amor dói. Toda falta perdura coisas que coisa nenhuma explica. Ninguém terá o mesmo tipo de sorrir que ele tinha, nem tampouco, ninguém falará daquele mesmo jeito e com aquele mesmo amor que ela falava. Talvez seja importante sentir saudade para lembrar das qualidades, sem desmerecer os possíveis erros que afastaram ou até mesmo silenciar certas bobagens que pareciam pequenas, mas que foram suficientes para trazer distância. Saudade é distância, mesmo morando na mesma casa e dividindo a mesma cama. Saudade é ver que as coisas cotidianas se tornaram raros eventos descobertos ao acaso. Saudade é desejar a presença e permanecer só(zinho). Talvez até fique um cheiro que acalme ou que atice. Talvez até fique a incerteza que um dia pode voltar, sem nunca morrer, porque saudade nunca morre, até mesmo quando a gente morre, ela fica viva em alguém. Bom seria se as saudades pudessem serem mortas por pedidos de desculpa, por vidas imortais, por amores incorruptíveis, pela coragem de tentar, pelo receio de perder. A saudade poderia ser extinta quando machucasse, quando arranhasse o disco das nossas músicas favoritas ou arrancasse páginas dos nossos livros preferidos. Mas ela arranca, machuca, arranha, torna a gente mortal, pequeno e necessitado. Se ela é boa ou não, já não sei.
Sinto saudade e cada saudade é particular, guardada em cantos particulares do peito e sentida na ampla necessidade das coisas que fazem falta.