03/08/2013

Ensaio sobre a saudade

Falta, claro que a gente sente falta, mas a gente prefere não falar. A gente prefere continuar a caminhar o novo caminho que esqueceu o velho, que empoeirou as antigas lembranças e fez passado o que não volta mais. Por mais que surja aquela louca vontade de relembrar, de voltar a acariciar os cabelos, aquela vontade estúpida que vem antes de dormir e faz revirar sentimentos e cobertas pela cama. E por mais que desapareça da vista, é complicado arrancar do coração. Na verdade não é complicado, é impossível, mesmo quando a saudade não é exatamente uma coceira confortável. Por mais que a gente supere a saudade, aquele tipo de saudade que provavelmente não volta mais, sempre fica um pedaço de falta, que presença nenhuma preenche. É como se certas saudades tivessem um encaixe só delas e isso as tornassem particulares, porém não menos, nem mais, doloridas. Independente do tipo, toda saudade dói. Todo amor dói. Toda falta perdura coisas que coisa nenhuma explica. Ninguém terá o mesmo tipo de sorrir que ele tinha, nem tampouco, ninguém falará daquele mesmo jeito e com aquele mesmo amor que ela falava. Talvez seja importante sentir saudade para lembrar das qualidades, sem desmerecer os possíveis erros que afastaram ou até mesmo silenciar certas bobagens que pareciam pequenas, mas que foram suficientes para trazer distância. Saudade é distância, mesmo morando na mesma casa e dividindo a mesma cama. Saudade é ver que as coisas cotidianas se tornaram raros eventos descobertos ao acaso. Saudade é desejar a presença e permanecer só(zinho). Talvez até fique um cheiro que acalme ou que atice. Talvez até fique a incerteza que um dia pode voltar, sem nunca morrer, porque saudade nunca morre, até mesmo quando a gente morre, ela fica viva em alguém. Bom seria se as saudades pudessem serem mortas por pedidos de desculpa, por vidas imortais, por amores incorruptíveis, pela coragem de tentar, pelo receio de perder. A saudade poderia ser extinta quando machucasse, quando arranhasse o disco das nossas músicas favoritas ou arrancasse páginas dos nossos livros preferidos. Mas ela arranca, machuca, arranha, torna a gente mortal, pequeno e necessitado. Se ela é boa ou não, já não sei.
Sinto saudade e cada saudade é particular, guardada em cantos particulares do peito e sentida na ampla necessidade das coisas que fazem falta.  

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