16/09/2013

Pega na minha mão



É um prazer o prazer de te encontrar
Sentir teu cheiro
Respirar teu ar
Ter incógnitas sobre você
É uma extrema boa sensação duvidar que você possa ser de carne e osso
Seguindo o caminho
Sem parar
Mas parando por alguns instante pra ouvir você falar
Pra ouvir a forma que você estremece as batidas do meu coração
Por inteiro
Por inteira
E completamente querendo ser encontrada
Resgatada
Amada
Confidente de toda a tua verdade
Seja nos dias de silêncio
Seja nos dias de barulho
Seja no congestionamento de nós dois
Pega minha mão
Eu quero descobrir o mundo com e em você
Eu quero descobrir o mundo em mim
Quero descobrir quem somos em nós
Não duas metades, mas dois inteiros
Um pouco de poesia
Uma taça de um bom vinho
Contar estrelas
Contar moedas
Contar histórias
Viajar
Admirável vida nova
Redescoberta todos os dias com você
Redescoberta porque você me descobre
Aperta meu peito contra o teu
Me protege da tempestade
Me dá uma vida boa dentro de um quarto de 2 por 3, com uma cama e um guarda-roupa
Eu te dou meus dias
Dou minhas dúvidas, minhas certezas
Meus defeitos
Minha preguiça sempre matinal
Minha fome noturna
Minha sobrancelha torta
Meus lábios rachados
Dou minha grosseria
Prometo textos te falando de amor
Finais semanas só teus
Filhos
Casa desarrumada
Lençóis limpos
Roupas amassadas
Uma mesa toda bagunçada de papéis
Latitude e longitude pensando em você
Viajando e voltando ao teu encontro, mesmo que seja milhares de vezes assim
Milhares de vezes, se possível, contando e (re)encontrando você pelo resto da vida!

01/09/2013

Acredite no amor, sua tola


Não dá para acreditar em um amor para a vida inteira, porque a vida está muito corrida e complicada. Os dias passam rápidos demais, não há mais a calmaria vivida pelos meus avós. Realmente, não dá para acreditar em um amor para a vida inteira, por isso cá estou eu, querendo desacreditar nisso. Os casais que foram casados por mais de 50 anos assim o foram por terem casado há 50 anos, não é? Não há mais amor. Mas e se eu quiser acreditar que existe amor para o resto da vida? E se eu quiser acreditar que o amor pode ser calmo, tranquilo e companheiro apesar dos dias corridos, complicados e desgastantes? Eu serei uma tola sonhadora romântica e extremamente boba. Haverá algum problema ser assim em um mundo que o que vale é o quanto você tem? Provavelmente sim, porque eu acredito no amor.
Eu acredito que um dia um cara maravilhoso vai chegar e arrebatar meu coração e sentidos. Vai chegar e me fazer acreditar que há uma vida para construirmos juntos, dois inteiros que se somam e continuam sendo um. Mesmo que ele seja atrapalhado, bagunçado e desajeitado, ele vai conseguir arrumar as bagunças do meu coração, junto comigo e eu junto dele. Junto dele construindo um caminho mútuo de respeito, companheirismo e tudo aquilo que juntos e separados nos permitiremos a viver. Mesmo quando separados for mais complicado, for melhor desistirmos- e tivermos tudo para desistir, nós não vamos desistir, porque aprenderemos que juntos somos melhores, não feito peças que se encaixam, mas como peças que se entendem. 
Ele vai entender meu olhar como nenhum outro entenderá. Ele aquecerá meus pés frios como nenhum outro aquecerá. Ele vai me abraçar tão forte que nenhum outro abraço será tão abrigo como o dele. Ele será o pai dos meus filhos, vai chorar quando eles se machucarem e orgulhoso tirará fotos das apresentações do colégio. Eu e ele vamos brigar, vamos discutir nas coisas banais, eu vou irritá-lo demorando demais para me arrumar. Ele vai me irritar jogando a toalha molhada na cama, sujando e não lavando a louça, dando refrigerante para os nossos filhos. Ele vai me fazer passar vergonha em uma reunião familiar, eu vou querer desejar nunca ter o encontrado. Ele me pegará pelo braço e dirá: "Você não fica bonita falando palavrão" e eu vou virar e mandar ele se ferrar. Ele me pegará pelo braço e me beijará com ternura. Ele será aquele que me ajudará a querer ser uma pessoa melhor, mesmo quando eu não for a melhor com ele, mesmo quando meus esforços forem rasos para mostrar o profundo amor que sentirei. Sei que vou amá-lo de maneira tão profunda que meu peito explodirá ocasionalmente de tanto querer bem e querer estar junto.Ele será o meu amor, como nenhum outro foi. Eu serei o seu amor, como nenhuma outra foi.
E você ainda me diz que é melhor desacreditar no amor?

Eis o vídeo de quem me mostrou que o amor ainda é digno de se acreditar:




Sem desgosto

Agosto chegou ao fim sem desgosto na boca. E na boca agosto partiu trazendo um sorriso. E o sorriso sobreviveu as tempestades do mês que não é, mas parece ser o mais longo. Agora chega setembro, o mês das flores, do dia marcado na minha certidão de nascimento, daquele sentimento esquisito que as coisas vão melhorar, daquele sentimento esquisito que te derruba e desnuda de todas as desculpas.
Agosto não sabe o que trouxe de tão lento que passou. Eu não sei como será o próximo agosto, nem tampouco, ouso querer pensar nos seus gostos. Não ouso pensar na porção de vida que passou de janeiro a agosto, eu só lembro que sobrevivemos. Não há nada de mágico, nem secreto, nem transcendental, foi apenas mais uma folha arrancada do calendário. Mas quem sabe, sem arriscar com cabeça- muito menos com o coração, a vida possa ser diferente depois desse agosto. Eu posso estar menos pior, continuando sendo pior. Eu posso estar mais esperançosa, mesmo estando no centro das minhas próprias guerras interiores e desejos ferozes. Uma coisa que agosto não sabe é que ele preencheu alguns dos vazios de uma forma que dezembro e janeiro pareceram, mas não preencheram. Preencheu com futuro trazendo presente.
E no fim, seja bem-vindo setembro. Abram as portas, escancarem as janelas, os corações e as bocas, aqui estou, decidida a morrer de amor e continuar vivendo.

 

29/08/2013

Poesia?

Todo aquele que parte reparte uma parte de quem fica.
Todo aquele que chega renova aquele que encontra.
Todo aquele que dissipa a distância encontra e descansa em braços, mãos, caricias, carinhos e beijos.
Todo aquele que espera descansa e continua caminhando.
Toda casa arrumada, com cheiro de lavanda e cortinas esvoaçantes, espera visita.
Todo sorriso espera morada.
Toda a certeza procura argumento.
Toda poesia desesperadamente quer um leitor.
Todo ciclo completado recicla.
Todo caminho dá aos pés chão.
Toda música silencia as redondezas da vida que vagarosamente passeia.
Todo aquele que encontra sente-se achado.
Todo aquele que silencia resguarda palavras.
Todo aquele que ama suporta.
Todo aquele que suporta continua.
Todo aquele que continua reaprende.
E todo aquele que nasce, pode até renascer, mas um hora morre.
Todo aquele que morre, permanece na lembrança, nos aromas, nas circunstâncias, no coração.
Poesia? Prosa? Vida.



12/08/2013

Até que ponto é errado gostar da pessoa errada?



Você provavelmente, assim como eu, já gostou da pessoa errada. Quem nunca? E quem nunca ficou questionando e revirando os pensamentos quanto a sensação do por que eu gostei daquela pessoa? Bem, tudo isso é comum, demodé e todo mundo tá cansado de falar e pensar, e de sentir a inevitável dor de muitas vezes lembrar. Quem nunca se sentiu um completo idiota ao falar com a pessoa amada? E se sentiu mais idiota ainda quando relembrou as coisas que disse e fez? Mas sabe, gostar da pessoa errada faz parte dos acertos da vida e dos aprendizados. Não acredito muito nessa história de alma gêmea, que existe alguém no mundo que foi criado especialmente para outra pessoa. Acredito em pessoas que se encontram, descobrem coisas em comum, coisas em divergência, compartilham juntos conversas gostosas, se descobrem companheiros e decidem partilhar a vida, histórias, sonhos e quem sabe uma vida inteira. Acredito que existe uma pessoa que fará todas as outras serem apenas outras pessoas, claro que acredito. Por mais burradas que eu já tenha feito, por mais pessoas erradas que eu já tenha gostado e me envolvido, ainda tenho a absoluta certeza que uma hora eu acerto e vou gostar de uma pessoa que seja certa, no momento certo, nas circunstâncias certas e da maneira que seja do tipo para toda vida. Quem sabe, eu e você, ainda vamos errar mais um cadinho, gostar de mais uma ou outra pessoa errada. Talvez por algum tempo a pessoa que possamos encontrar possa parecer realmente aquela que será certa pela vida toda, mas vai que a gente briga, vai que a gente se desencontra e novamente, eu e ele, voltamos a estaca zero. Não posso dizer sobre todos os caras que gostei que eles foram errados e eu a certa, quem sabe, eu fui a errada em todos os casos. Fui errada, impulsiva, mimadinha e coloquei chifre em cabeça de cavalo. Ok, posso ter confundido tudo, no entanto, em cada não, eu aprendi a ser melhor na próxima tentativa. Aprendi melhor sobre me relacionar e em não deixar num canto escondido do meu coração o que eu sentia. Aprendi a ser franca quanto ao que eu sentia, as minhas sensações quanto ao outro sempre foram reveladas e eu sempre sentava e tinha algo para escrever. Sim, eu ainda lembro das bobeiras que escrevi para os meninos que gostei, tenho primeiro uma vontade de enfiar a cabeça na parede, só que aí eu lembro que ao menos tentei. Nunca deu certo, mas eu tentei. Não tenho vergonha de dizer que nunca tive um namoradinho sério e quando eu gostava de alguém, eu gostava, me iludia, falava do sentimento e tomava na cara, sempre ouvindo aquele papinho "Ah, nós somos amigos, acho que você tá confundindo as coisas". Infelizmente para uns, acredito que uma grande maioria, isso geralmente acontece. Por mais noites de choro, músicas de fossa e aquela pontinha de "eu nunca mais vou sentir isso por outra pessoa", a gente supera. Lembro da minha última decepção- que de longe foi a pior em todos os sentidos, o que me fez superar foi quando eu entendi que existem muitas pessoas no mundo, superando coisas piores e mais profundas, até eu superei algo pior que foi a perda da minha mãe, o que seria um não do cara que eu gostava? No fim o que fica de toda decepção é o quanto você pode crescer com ela, amadurecer e perceber que as coisas não são exatamente do jeito que fantasiamos e que a nossa felicidade a princípio não pode depender de ninguém a não ser começar pela gente mesmo. Que antes de alguém te fazer feliz, você precisa se fazer feliz, sem que isso seja capítulo de um livro barato e qualquer de auto-ajuda. Infelizmente eu não posso te garantir que você vá encontrar a pessoa certa para o resto da vida ou que seja para apenas uma estação, nem eu tenho essa garantia. O que vale é não desistir, por mais vazio e sem amor que esse mundo pareça estar. Por mais fácil que seja garantir para os lábios beijos e para o corpo prazer, sendo que isso não seja necessariamente por inteiro verdadeiro, leal e completo. A realidade pode ser cruel, além de cruel, ela é devastadora, conheço muitas pessoas que por conta de coleções e amontoados de decepções deixaram de acreditar que podem amar e serem amadas, não discordo dessas pessoas, tenho medo de ficar assim, só que talvez por não aprenderem com os erros passados ou fecharem por demasia o peito deixam escapar as oportunidades de ser diferente. Ou não. Não sei se é totalmente errado gostar da pessoa errada, espero que há algo a ser aprendido, talvez não agora, mas talvez seja para reconhecer quem é certo ou excluir de vez aquele que mostrar os mesmos indícios do errado. No entanto, cada um é cada um, cada história possui duas possibilidades e como sempre me falaram o não você tem, busque o sim e se ele não vier entenda que você precisa aprender.    

03/08/2013

Ensaio sobre a saudade

Falta, claro que a gente sente falta, mas a gente prefere não falar. A gente prefere continuar a caminhar o novo caminho que esqueceu o velho, que empoeirou as antigas lembranças e fez passado o que não volta mais. Por mais que surja aquela louca vontade de relembrar, de voltar a acariciar os cabelos, aquela vontade estúpida que vem antes de dormir e faz revirar sentimentos e cobertas pela cama. E por mais que desapareça da vista, é complicado arrancar do coração. Na verdade não é complicado, é impossível, mesmo quando a saudade não é exatamente uma coceira confortável. Por mais que a gente supere a saudade, aquele tipo de saudade que provavelmente não volta mais, sempre fica um pedaço de falta, que presença nenhuma preenche. É como se certas saudades tivessem um encaixe só delas e isso as tornassem particulares, porém não menos, nem mais, doloridas. Independente do tipo, toda saudade dói. Todo amor dói. Toda falta perdura coisas que coisa nenhuma explica. Ninguém terá o mesmo tipo de sorrir que ele tinha, nem tampouco, ninguém falará daquele mesmo jeito e com aquele mesmo amor que ela falava. Talvez seja importante sentir saudade para lembrar das qualidades, sem desmerecer os possíveis erros que afastaram ou até mesmo silenciar certas bobagens que pareciam pequenas, mas que foram suficientes para trazer distância. Saudade é distância, mesmo morando na mesma casa e dividindo a mesma cama. Saudade é ver que as coisas cotidianas se tornaram raros eventos descobertos ao acaso. Saudade é desejar a presença e permanecer só(zinho). Talvez até fique um cheiro que acalme ou que atice. Talvez até fique a incerteza que um dia pode voltar, sem nunca morrer, porque saudade nunca morre, até mesmo quando a gente morre, ela fica viva em alguém. Bom seria se as saudades pudessem serem mortas por pedidos de desculpa, por vidas imortais, por amores incorruptíveis, pela coragem de tentar, pelo receio de perder. A saudade poderia ser extinta quando machucasse, quando arranhasse o disco das nossas músicas favoritas ou arrancasse páginas dos nossos livros preferidos. Mas ela arranca, machuca, arranha, torna a gente mortal, pequeno e necessitado. Se ela é boa ou não, já não sei.
Sinto saudade e cada saudade é particular, guardada em cantos particulares do peito e sentida na ampla necessidade das coisas que fazem falta.  

30/07/2013

Me desmonto

Queria te amar por mais incerto que pudesse ser. Queria acordar todos os dias admirando o fato que você está do meu lado, mesmo com o cabelo bagunçado ou com a cara amassada. Só que não sei se todo esse querer me faz bem como eu quero que faça. Só que eu não sei se é certa essa hora de te querer por perto e de querer sentir teu cheiro. Por mais que meu peito esteja preenchido de sentimento nobres e calorosos, na minha cabeça giram e se repartem em zilhões de pedaços todas as minhas questões remetidas a tua memória. Eu me desmonto, me reparto e me guardo silenciosa, mesmo sendo tão barulhenta. Por mais que a vida pudesse ser boa contigo, nós conseguiríamos a fazer suficientemente boa pra gente? Eu já não sei, eu queria saber, mas eu acho que não me é permitido saber certas coisas, sentir- por agora, certas emoções. E eu sigo do mesmo jeito que um dia te encontrei, tentando ser melhor e sim, certa para a hora certa.

27/07/2013

Alguns conselhos, menina

 
    Não nutra tanta expectativa nessa vida, menina. Os dias são passageiros demais para que o alvo seja somente esse aqui e agora, ora palpável, ora instável. Os dias vão passar depressa e sem que você perceba a vida vai correr pelos dedos, feito água quando você passa a mão pela torneira aberta. Não seja tão faminta ante as coisas que podem ser, não vá com tanta sede ao copo vazio pousado sobre a mesa. Mas algumas vezes para aprender, você irá com força bruta agarrar o vento, cairá sozinha em um chão sujo e sozinha terá que levantar. Incontáveis e repetidas vezes o mesmo processo de aprendizado.
    Você achou que estaria escrevendo sobre o amor e quando vê contou para o diário sobre mais um dia em que tudo se esvaziou, e mais uma vez, sozinha, entendeu que é mais passageira essa vida do que qualquer outra expectativa que morreu. Nada é suficiente nessa vida. Nada preenche, por mais inteiro que pareça ser. Paradoxalmente, você precisará entender que para ser cheia, terá que buscar o vazio de si mesma, todos os dias, mesmo que não seja em todos os dias que você faça isso.
    Mas por mais vazia que seja essa vida chega sempre uma hora que você pára diante de uma porta e entende algumas coisas, desmonta algumas das tuas perguntas, abandonando o que doeu e percebe que precisa prosseguir. Por mais que haja uma ferida, hoje há uma cicatriz. Há um sorriso. Há uma esperança que espera e caminha, lado a lado, por anos, por eras, por décadas e breves segundos. Há uma inexplicável sensação de que dá pra acreditar em histórias com finais sem finais, capítulos inesperados e sensações mais incríveis e pulsáteis possíveis. Dá para acreditar que o amor chega diante as coisas que não se esperam como amor, mesmo que desacreditar seja o caminho mais fácil e confortável. Acreditar, muitas vezes é desconfortável, ainda mais quando você tenta lutar contra a força da gravidade.
    Você não pode perder quem é para ter ao lado quem parece ser melhor. Você não pode sangrar por querer carregar pesos que nunca te pertencerão. Você vai sangrar, a gente sempre sangra por lutar, mas sangre pelo que é teu, pelas tuas vontades e sonhos que valem a pena. Com o passar dos dias é esperado que a gente aprenda a selecionar melhor até onde lutar, até onde se quer chegar e o momento de parar, até mesmo o momento de desistir, para que a cabeça pare de atingir o muro das nossas próprias e estúpidas teimosias.
     Infeliz ou felizmente certas teorias só serão práticas efetivas depois de muito bater a cabeça no muro, cair e ralar os joelhos. Algumas poucas e raras pessoas aprenderam a andar de bicicleta com poucos tombos, a grande maioria- e me incluo nela, caiu muito, chorou, tendeu a desistir, ralou os joelhos, precisou do suporte de rodinhas e do tempo para sozinho percorrer o caminho desejado. Mesmo assim, já sabendo andar de bicicleta, a gente pode cair, se emborrachar no chão, chorar, e querer desistir. Desistências fazem parte, desiste quem é fraco demais, como também quem é forte e admite que não tem mais jeito. Desista! Aprenda a desistir, aprenda amar, chorar, cair, levantar e a viver toda essa vida passageira. E espere o que não é passageiro na esperança eterna.  



26/07/2013

Tenho pés gelados

Mas os meus pés estão gelados, talvez até cansados. Meus pés estão marcados pelos dias que andei com eles descalços, pelos dias que fiquei sem chão seguro para pisar e por alguns outros dias, nos quais o chão se rompeu em antes e depois. O meus pés sempre foram gelados, porém nunca sem vida, por mais sem vida que alguns dias foram e ainda serão- eu sei que ainda serão. Infelizmente não posso fazer o tipo otimista sobre tudo, até porque a falta de otimismo não é sinônimo de falta de fé e esperança. E até porque eu aprendi que pra sempre não existe na nossa vã e pequena mente, nem o coração aguentaria bater pra sempre, e é por isso que as pessoas morrem. E hoje chego a conclusão que prossigo aprendendo sobre o otimismo, eu ainda não sei a maneira equilibrada de senti-lo. Prossigo com os pés frios, mas com um caminho debaixo deles, caminho que me guia, protege, mesmo quando os passos ficam sem chão, ele é mais que caminho, ele é alvo. Guia-me hoje -e até o dia que o coração parar de bater, meu amado caminho, verdade e vida. No fim eu sei, que um dia você vai me dar um novo coração que para sempre vai bater junto da tua companhia.  


Mantenha a terra sob meus pés
Por todo meu suor, meu sangue corre fraco
Me deixe aprender sobre onde vi
Mantenha meus olhos servindo, minhas mãos aprendendo
Mantenha meus olhos servindo, minhas mãos aprendendo

09/07/2013

O que era mas não foi


-Você nunca vai entender as coisas que eu disse, a forma que vivemos e como chegamos aqui tão vazios, quando as expectativas eram que nessa altura do campeonato já estivéssemos cheios de coisas boas.
E foi assim que ela disse adeus.
-Mas eu quero recomeçar- insistia ele.
-Não, não vamos recomeçar, os pedaços de cada queda do meu coração o despedaçaram de tal forma, que eu preciso te confessar que apesar de todo amor que sinto por você, apesar do respeito e todo carinho, estou totalmente cansada. Me fartou querer prosseguir contigo. 
-Juro não repetir as minhas falhas e faltas. Aprendi e perder você não será aprender, será perder o pedaço mais importante da minha vida
-Desculpa, mas todas as tuas juras foram em vão, você mentiu, você me machucou, você enganou todas as minhas expectativas, você matou o nosso futuro bom, mas antes disso mesmo, destruiu todo o meu presente. Você precisa entender que não me ama, só ama a sensação de que pode me dominar, o prazer de me ver implorando que eu preciso de você. E quer saber? Não preciso de você! Você em toda ausência me machucou, porém, me mostrou que eu não preciso da tua companhia. Antes de tudo, preciso ser feliz com a minha própria companhia, preciso me encontrar.
-Nós nos encontramos quando somos dois
-O quê? Nos encontramos quando somos dois? Nunca fomos dois, só achamos que fomos. A gente ainda precisa entender quem cada um é sozinho. Você é um babaca, um imbecil, covarde. Eu não sei quem sou, e me perdi muito mais quando decidi querer acreditar na ilusão que me encontraria em você. Você que é milhões de vezes mais perdido que eu. Tá na hora de perceber isso, antes que seja tarde demais pra você!
-Não, não vá embora, você é a minha luz no final do túnel!
-Sou a luz no final do túnel, realmente, porque durante o percurso no túnel eu não existo pra você, eu só estou na frente, no futuro, na barriga que abriga um filho teu, na casa dos teus sonhos. E onde eu tô na tua história atual? Acho que você viveu muito no futuro que poderíamos ter vivido, ficou muito enfiado naquele maldito escritório e esqueceu que a vida futura a gente constrói no nosso presente.
-Nunca mais, nunca mais deixarei de te fazer ser a prioridade da minha vida. Você é meu passado, meu presente e meu futuro. Fica comigo, me dá mais uma chance, mais um sorriso bobo escancarado na cara. Você sabe que eu sou louco por você, adoro teu cheiro, teu beijo molhado, tuas mãos pequenas que acariciam meus cabelos...Me diz que isso não tá acontecendo, que é uma brincadeira, que é um soco na cara que eu mereço, mas que você tem sim o desejo de um futuro do meu lado.
-Não, eu não tô brincando. Você que brincou com aquilo que chamou de amor que sentia por mim. Não adiantam mais as tuas palavras, as tuas ações, os teus nunca mais, porque eles não são nunca mais, eles duram uma semana, me enganam com sacanagem e depois me arrebentam. Dessa vez não estou com um papinho fajuto de vamos tentar, eu só quero que você que saiba estou dizendo adeus, estou arrumando as malas das minhas desculpas de não te deixar. Eu resolvi pensar sobre nós e não só sentir. Amo teus beijos, amo desarrumar teu cabelo de playboyzinho,você me faz sorrir, claro que faz. Mas sabe quando você percebe que não tem tudo? Eu tive apenas a sensação de te pertencer e tudo foram sensações, e nunca, nunca mesmo, foram certezas firmes e alicerçadas. Eu não conhecia essa parte dentro de mim, confesso. Essa parte até que intolerante, desesperançosa, egoísta, mimada e desconfiada, descobri depois de muito só fechar os olhos pra te beijar.
-Me deixa te fazer feliz essa noite, depois a gente conversa melhor.
-Essa noite? Você teve 2 anos para me fazer feliz e acha que uma noite e pronto estamos quites pelos 2 anos? Ouvindo você falar essa besteira, eu vejo o quão egoísta você é. Acha que uma mulher de verdade tá atrás de uma noite e pronto? Uma noite, qualquer vagabunda pode te garantir. Se quiser te dou o dinheiro para que você resolva toda a tua vida, para que você encontre alguém que possa amar por inteiro, em uma noite. Não seja infantil e imaturo. A vida não se resolve assim
-Então, te dou uma semana pra pensar na gente, na nossa vida, no amor que sentimos
-Uma semana?
-Sim, uma semana.
Então ela respira profundamente: 
-Uma semana? Melhor, tenho uma opção melhor.
Ele com um brilho de esperança nos olhos: 
-Uma opção melhor?
-Claro, eu saio hoje, penso por uma semana. Aí penso por mais outra semana e na próxima eu já estarei melhor
-E reatamos? E casamos? E aí vamos morar na nossa casa com chaminé e teremos nossos 4 filhos?
-Não, eu já estarei melhor. Melhor e longe de você. Cada dia mais longe da tua presença, da tua lembrança, do teu cheiro, da vontade idiota que vai surgir de querer te dar mais uma oportunidade. Depois se passarão mais 1 mês, depois 2, 3 e quem sabe no quarto mês eu já esteja me apaixonando por outro cara e esteja me encontrando melhor todos os dias, me conhecendo melhor e curtindo a minha companhia. Amar você foi fácil, vai ser difícil te esquecer, só que eu supero. Não se preocupe...ah, você não se preocupa comigo, só quer saber de uma noite e do futuro.
Ele segura com força o braço dela:
-Você não pode fazer isso comigo. Eu vou morrer, eu não vou superar. Você tá falando isso da boca pra fora.
-Não, é do coração pra fora que eu falo isso. Eu sempre fui coração, apesar de todas as minhas falhas. Quem é boca pra fora é você! Tenho a certeza absoluta que todo esse amor, toda essa morte, logo já terá outra vida na vida. E não fique recesso em aparecer com um novo amor eterno e todo esse blá, blá que já vivemos juntos. Ficarei feliz. 
-Você é tão enganada quanto ao que fala ao meu respeito. Teve razão na maioria dos meus defeitos apontados, mas perdeu a razão ao dizer que não quer mais estar do meu lado.
-Perdia a razão, meu amor. Eu perdi a direção, perdi quem sou, perdi dias de sol esperando você chegar a noite em casa fedendo desprezo. Realmente estou perdendo você e ganhando a vida. Obrigada por tudo, te falo isso sem falsidade. Nunca vou te esquecer, ainda vou guardar uma foto nossa naquela minha caixa da lembranças. Vamos nos encontrar em algum lugar, te darei um abraço apertado, oferecerei uma xícara de café em uma padaria qualquer. Ou não. Agora eu preciso ir, sem lágrimas, sem desespero. 
-Você ainda me dá um abraço e fica me devendo outros todas as vezes que me encontrar? 
-Claro, um abraço e até um último beijo. 
E foi assim, se abraçaram, se beijaram pela última vez. Ele chorou, ela não. Ele tentou ligar, ela mudou de número de telefone, viajou para uma praia desconhecida, cortou os cabelos e quando voltou ele já tinha enlaçado nos braços outro amor, outro sonho encantado no futuro. Ela riu, claro que riu. Ela lembrou das lágrimas que derramou por ele, do desespero que teve uma noite sozinha no quarto daquela pousada  e viu que precisou passar por tudo aquilo para começar o processo de se conhecer e se completar. Hoje ela saiu de casa na espera de uma surpresa, só que sem expectativas, apenas com o sorriso mais lindo nos lábios e sabendo que o que era mas não foi passou.



13/06/2013

Você sobrevive

     Você sobrevive. Sobrevive aos dias maus, as más escolhas, aos sentimentos contrários, aos amores jogados pela janela. Você sobrevive ante as maiores ondas, porque você precisa continuar. Você continuará errando, pisando nos caminhos nem tão certos, abrindo teu coração a um coração fechado, sorrindo pra quem só se importa com teu silêncio. Você vai prosseguir mesmo quando prosseguir for permanecer,seja sozinho, seja acompanhado, seja nos dias frios, quentes ou chuvosos. Tudo vai passar e o que fica é pra ficar, mereceu ficar, nadou contra todas as marés violentas, boiou apoiado num dos destroços do teu navio e chegou seguro na praia, onde você se fartou, onde você se fortificou, reergueu outro barco e se dispôs a novamente enfrentar o mar. Você enfrenta, perde ou ganha, mas continua. Continua porque tua carne é fraca, mas a tua esperança é forte. A tua espera é vagarosa, confortável ante tua extrema pressa, ante as coisas que você deveria ter feito e não fez.  A tua esperança foge desses dias maus, passageiros, ela é eterna num mundo de coisas tão efêmeras, ela até soa boba e infantil, mesmo não sendo.
     Você sobrevive e enquanto sobrevive precisa aprender a viver, a colher as coisas boas, aprender com as ruins e a ser melhor diante o que te fazem de bem ou mal. Você sobrevive, continua, prossegue e permanece porque tudo vai passar, sempre passa. Você enfrenta e no fim de tudo espera, porque a vida é uma cotidiana espera, de coisas boas, surpreendentes, más e alegres. Você vai sobreviver, acredite em quem sobrevive todos os dias.


06/06/2013

Amélia Carolina


Ela era daquele tipo mesmo, do tipo que sabia a contagem exata dos dias e do porquê de cada sorriso que deixava cair no rosto. Era um pouco desajeitada e todo dia derrubava alguma coisa ou outra das mãos. Mas aquele sorriso, ah aquele sorriso, nunca deixou de sorrir e ficar sempre com cara de boba, aquelas bobas eternamente apaixonadas. Desde o dia que nasceu, o pai jurava de pé junto que ela olhou pra ele e sorriu, ninguém nunca disse que aquilo era mentira, mas todo mundo sabia que de história de pescador ele era mestre. Na certidão o nome de Amélia Carolina, na lembrança, a Amélia dos Sorrisos.
Com 15 anos e alguns dias, nem ela sabia quantos, o pai contador de histórias partiu e fez Amélia chorar. O homem mais lindo da vida dela, o dono de seus sorrisos mais fáceis, pegou firme na mão da menina e disse: "Eu vou, mas não deixa, minha flor mar bunita, o teu sorriso ir junto comigo". Suspirou, fechou os olhos e partiu com o chapéu de palha na cabeça. Ela chorou, claro que chorou, porém não deixou o sorriso ser enterrado junto com o pai naquele chão batido do sertão. Só que no sertão ela não quis mais ficar. Pegou as trouxas dela e da mãe, as jogou em uma mala velha e partiu. Chegou na cidade grande, fez doce, malabarismo com a pensão que recebiam e resolveu estudar pra dar uma vida melhor pra mãe que sofria de pé gelado e coração triste depois que o pai partiu. Consegui, 20 anos na cara e nas mãos o certificado do supletivo. Fez faxina nas Casas Bahia, dormia 4 horas por dia e nas outras horas se colocava a ler, ler e ler. De tanto ler, chegou a vomitar conhecimento em várias lixeiras, passou no vestibular e a mãe contava para as vizinhas do cortiço que a sua Amélia Carolina seria doutora. Na verdade, ela seria jornalista, mas na simplicidade da mãe dela, Amélia seria doutora porque chegava todos os dias em casa carregada de livros, de sonhos e toda a esperança possível, e é claro, sempre sorrindo. Mesmo nos dias que ela tinha vontade de nunca mais levantar daquele colchão jogado no chão da sala, ela lembrava do pai, ela lembrava da vida sofrida do sertão, da saudade e de todo o resto e aquilo fazia ela levantar. E engana-se quem pensa que ela era a melhor aluna da sala, não, ela se formou com luta, com guerra e paz, porém sem as honras para uma aluna excelente porque ela não foi. Na noite da formatura, nada mais a honrou que ver o choro saudoso e alegre estampando os olhos da mãe, que com mãos trêmulas e já cansadas segurou as mãos da filha e disse: "Minha flor mar bunita, agora cê é dotora!". E ambas sentaram e choraram lembrando do homem de suas vidas, lembrando do chão do sertão e vendo que valeu a pena jogar as trouxas naquela mala velha e partir para a cidade grande. E Amélia Carolina, sorria, dançava e tomou um porre para comemorar, chegou em casa e o colchão jogado na sala parecia uma cama king size.
Do cortiço, mãe e filha foram morar em um apartamento alugado. A mãe já com as vistas cansadas, com os pés ainda gelados e com o coração ainda triste, escutava toda a noite os sonhos que cativavam o coração da filha, apoiava a ideia de Amélia se pós-graduar sem entender o que aquelas duas palavras significavam, e sempre dizia: "Amélia, Amélia, e quando eu partir? E quando eu for embora feito o teu pai, o que vai ser do cê? Fiá, flor mar bunita do sertão, trate de encontrar um amor, que aqueça os teus pé frio e dê no teu coração as alegria que o teu finado pai me deu". E Amélia ria, como se escondesse um segredo. E a mãe dela fingia não ver nos olhos dela e na boca uma nova alegria, e antes de dormir acendia uma oração pra que Deus alumiasse os passos da filha, as pós-gadruação e a vida de dotora dela.
"Mãe, vamos nos mudar! Mãe, eu comprei uma casinha pra senhora, com um jardim para a senhora cuidar. Mãe, mãe, eu te amo". Ela não conseguia mais falar, nos olhos lágrimas de alegria, no coração da mãe batidas fortes e gratidão a filha dotora pós-gadruada que fez por ela o que nunca ela imaginou na vida do sertão ter. "E mãe, tem mais uma coisa". A mãe olha pra ela e diz: "É sobre o moço que deixou teu sorriso mais bunito?". E Amélia abraçou a mãe, ela já sabia de tudo, o mundo inteiro sabia porque era muita felicidade dentro do peito, recheada nos olhos e espalhada pelo corpo. Até o padeiro tinha percebido isso, porém achou muita intromissão da parte dele perguntar pra Amélia sobre o motivo notório dos sorrisos dela.
E eis aos interessados como Amélia Carolina conheceu o seu príncipe encantado montado em um fusca azul.
Ela estava no último semestre da faculdade, na correria de tudo, nas pressões do estágio, na ânsia e no medo de talvez não passar na matéria daquele professor rabugento. E ele passou por ela e ela sorriu. E isso se repetiu por várias semanas, ele passava, ela sorria. Ele chegava em casa e não entendia porque ficar preso no sorriso daquela mulher da pele morena, dos olhos castanhos e do cabelo enrolado. Até que um dia ele em um ímpeto de coragem desconhecida pergunta todo atrapalhado: "Oi. Me chamo João, bem acho que não te interessa. Ah, desculpa...desculpa mesmo. Esquece meu nome, por favor, esquece que eu tô falando com você. Ai que idiota como você vai esquecer se eu ainda tô falando...Acho que vou desmaiar". Não é que ele desmaiou. Acordou sob o olhar descontraído de Amélia. "Moça, não me diz que eu desmaiei. ..não é possível, como eu posso ser tão atrapalhado?". "Ai moço, eu não sei. Também sou atrapalhada, bem vindo ao grupo...Ah João, me chamo Amélia, Amélia Carolina". Foi assim. Não que Amélia não tivesse outras histórias, outros amores, outros caras que fizeram ela sorrir, mas como ela mesmo dizia: "João foi aquele cara que quando chegou me fez arrastar um bonde, me fez chegar ao céu em segundos, foi o melhor beijo de boca molhada que chegou nos meus lábios. O João arrebatou meu coração pra uma dimensão que me faz querer amar todos os dias, a todo renascer do sol. O João é a minha poesia escancarada na cara como sorriso. Acho que é isso...".
"Mãe, esse é o João. João essa é a mulher mais maravilhosa do universo, minha mãe, dona Luí, e ouse não chamá-la por outro nome!". Foi assim que João conheceu dona Luí e ela então entendeu que a filha ficaria bem acompanhada e amada, pois já estava chegando a hora de encontrar o marido que nunca deixou de amar e tirar do coração logo aquela tristeza teimosa.
Certo dia, desses dias que nunca são certos, Amélia chega em casa e vê a mãe prostrada na cama, tão branca que chegava a dar frio só de olhar pra ela. Amélia pega o telefone e chama João, sabia que médico nenhum ia resolver aquela partida, a mãe tava partindo pra ficar junto com o pai e ela não queria ficar sozinha no mundo. "Fiá, chora não, é flor bunita, é flor amada. Sei que o Jão vai te amá, vi isso nos olhos dele, vi isso nos teus. Ocês vão passar por coisas ruins, por coisas boas, por dias de seca e por outros de fartura, o que vai ficá é o amor. É sempre o amor que fica. O teu pai foi e ficou o amor dele, ficou o nosso fruto que foi ocê. Não vou conhecer os teus fiós, mas sei que eles serão bunitos como ocês dois. Eu sempre subê que um dia a gente ia ficá longe,a minha tristeza precisa sair do coração, ela não guenta mais. Obrigada pela casinha, por ter se tornado dotora e logo será pós-gadruada. Sei que Deus vai alumiar ocês, pedi isso todos os dias e ele vai cuidar de tudo. Lembra do que o teu pai te disse? Vou repetir antes que meu coração dê um treco. Eu vou, mas não deixa, minha flor mar bunita, o teu sorriso ir junto comigo". E igual ao pai de Amélia, dona Luí suspirou, fechou os olhos e com mãos geladas soltou as mãos da filha. Amélia abraçou forte João, os dois choraram e dona Luí teve sua dor de tristeza curada.
"Meu amor, não me abandona, nunca? Vou sorrir por você, todos os dias. Vou lembrar que o meu sorriso não foi embora junto com a minha mãe porque você segurava a minha mão, porque você me abraçou forte e me disse que estaríamos juntos até o fim"." Não Amélia, você é a flor mar bunita, você é a menina mais encantadora dos meus olhos e estaremos juntos até o fim".
Três meses após a partida de dona Luí, João e Amélia se casaram, uma cerimônia simples, com poucos convidados e com muito amor. Trocaram alianças e dois anos depois chegaram as gêmeas e três anos depois o menino mais atrapalhado que João e Amélia juntos.
Amélia e João foram casados por 27 anos, se amaram desde o primeiro olhar até o último suspiro de Amélia. Foram felizes, foram infelizes, pensaram no divórcio, desistiram quando uma das gêmeas teve uma pneumonia que quase a matou. Foram endividados por uma viagem a Disney. Foram escandalosos com beijos no meio da rua, com discussões infantis em idas ao restaurante. Foram alguns dias cada um dormindo em uma cama. Ela jornalista colunista de um jornal pequeno, ele professor de matemática em uma faculdade particular sem renome. Foram incansáveis amantes um do outro, apesar dos dias de raiva. Como disse dona Luí passaram por dias de seca e fartura, por dias bons e maus, e não é que ela tinha razão, o amor foi o que permaneceu. Compraram uma casa e um apartamento, mas o que ficou foi o amor. Tiraram muitas e muitas fotos juntos, mas o que ficou foi o amor. Viveram e ela morreu, mas o que ficou foi o amor.
Das gêmeas sei que uma está terminando o doutorado em História Antiga na Europa, a outra é dentista que trabalha na África em comunidades carentes e o menino advogado da defensoria pública do Rio de Janeiro.
E você quer saber como Amélia disse adeus?
Era natal e por conta da insistência de Amélia todos estavam lá, as filhas e seus maridos, uma delas estava grávida, o filho e sua namorada. Todos abriram seus presentes, menos Amélia. Então ela pega a taça com champanhe e naquele movimento clichê de querer a atenção de todos começa um discurso: "Boa noite, amores da minha vida. Agradeço os presentes, agradeço em especial a presença de cada um. João, obrigada pelo teu amor. Obrigada por ser o marido mais espetacular do mundo, mesmo quando eu te digo pra não deixar a toalha molhada na cama e você deixa. Em especial hoje eu lembro do dia que minha saudosa mãe partiu e você estava comigo e prometeu me amar até o fim, você foi fiel nessa promessa. Filhas, vocês foram os meus primeiros tesouros, as jóias em dose dupla que ganhei de surpresa. Foi maravilhoso ver o quão maravilhosas vocês se tornaram. Querida Luiza, o bebê que você carrega aí tenho certeza que será coberto de amor e muita sabedoria. Você e o Francisco serão grandes pais. Mariana, logo você e o Mário também terão essa chance majestosa de dar vida a uma criança que será luz na vida de vocês. E meu pequeno, pra sempre pequeno, Marcelo, estou tão feliz pelo caminho que você optou, por todas as tuas escolhas, entre elas, a Gabriela, que eu vejo bem no fundo dos teus olhos que é o amor da tua vida. Gabriela, cuida bem do meu precioso. Sou extremamente feliz por ter vocês na minha vida e sei que esse momento foi preparado por Deus, ele cuidou de cada detalhe, ele ouvi as orações da minha mãe, ele não permitiu que meu sorriso fosse embora junto com meu pai. Quero deixar de presente para vocês o que minha mãe me deixou antes de partir, o conselho de que o amor sempre fica. As coisas vão passar, as estações sempre mudam, as pessoas mudam algumas coisas, os amigos não são eternos, nem nós o somos. Vocês terão momentos de extrema dificuldade, a vida nunca será fácil, ninguém deixa as coisas serem leves e descomplicadas, porém, não esqueçam que o que fica é o amor. Façam tudo pensando  e calculando se no fim, mesmo com tudo desabando, o amor ficará. Cometi os erros que qualquer pessoa está enfadada a cometer, cometi uns mais que outros, porém olhando pra vocês percebo que no fim o que ficou foi o amor...foi bom amar vocês...(respiração ofegante). Eu vou embora, me desculpem...me desculpem...(respiração mais ofegante) mas não deixem o sorriso de vocês irem embora comigo". Suspirou, fechou os olhos e caiu desfalecida ao chão. Os filhos queriam chamar uma ambulância, João disse que realmente aquela era a hora de Amélia, que aquele sentimento de partida foi semelhante ao do dia que Dona Luí foi ao encontro do pai de Amélia. O coração de todos doía e nos lábios dela, mesmo gelada e já sem vida, residia aquele sorriso.

"Meus queridos, sei que vou partir. Talvez não dê tempo de contar tudo que precisarei contar, por isso, deixei essa carta. Há 4 meses fui diagnosticada com uma doença muito rara em meus pulmões que foi descoberta naqueles meus exames de rotina de todos os anos. Meu médico me orientou que haveria tratamento, porém, um tratamento agressivo que poderia me custar dias bons e alegres com o meu João, talvez dias e dias internada em um hospital sem poder ligar para vocês, crianças. Com ou sem tratamento, a doença avançaria e me devastaria. Não vou dizer quem foi meu médico, esse foi o sigilo que exigi dele. Procurei vários médicos e todos davam a mesma notícia. Não quis que vocês sofressem com isso, lembram que meu apelido na infância era Amélia dos Sorrisos? Decidi que permaneceria assim. Me submeti apenas a um tratamento paliativo, fazendo uso de medicação para aliviar a dor e falta de ar. Minhas desculpas que a falta de ar eram por uma anemia mal tratada dariam certo, porque sabia que teria poucos meses de vida e até gerar suspeitas em vocês eu já teria ido embora. Não sei como explicar, mas sei que meus dias se findaram.Posso ter mentido, mas pequenas mentirinhas de amor, se forem para não machucar, acho que valem a pena. Só quero, por fim, deixar a vocês meu amor. Deixo escrito nas minhas palavras meu amor e na esperança de ter deixado em suas lembranças memórias e recordações de amor. 
Amo vocês. Com amor, mamãe"

E assim Amélia, nasceu, viveu, sofreu, errou, aprendeu, amou e hoje fica na agradável memória de quem a conheceu, de quem teve o privilégio de entender o porque ela era chamada de Amélia Carolina, a Amélia dos Sorrisos.

02/06/2013

A metade que passou


    Chegamos na metade do ano. Meu Deus, já chegamos na metade do ano! Eu lembro que não prometi nada para esse 2013, sim, deu meia noite e apenas abracei meu pai, bebi uma coisa azeda e comi uma caixa de bis. Sem aquela utopia boba de que os ponteiros do relógio fossem mágicos e tudo seria melhor. E agora chegamos na metade do ano e tanta coisa eu fiz pela metade e ainda não terminei. Quantas coisas pareciam inteiras e nem chegaram na metade quando chegaram ao fim. Ah 2013, você está sendo cômico, estranho, mutante, intenso e ainda tá na metade! Não sei se tenho medo do que está por vir, sinceramente, queria dormir e acordar em dezembro, mas aí eu penso, quantas são as circunstâncias que ainda preciso viver, que ainda são necessárias nesses outros 6 meses que me faltam para novamente dar um abraço no meu pai, no meu irmão, beber uma bebida azeda e comer outra caixa de bis?
      Seja bem vinda outra metade, não vamos brindar nada, nem prometer, vamos viver e nos descobrir. Vamos descobrir se algumas dores permanecerão dores ou se serão curadas e atadas, por fim. Vamos descobrir a tentativa de sermos melhores, melhores lembranças, encontros e desencontros casuais. Lembrar e pôr em prática o que a metade que passou deixou de ensinamento, não repetir as mesmas e exatas burrices de todo ano. Vai ser um pouco mais perto do céu e, ao mesmo tempo, perto da Terra? Tomara que assim seja. E mais uma vez seja bem-vinda a metade que ainda não passou, só não gosto muito de você quando eu lembro que você chega e um pouco depois da tua chegada, o outono vai embora.


31/05/2013

As músicas do John Mayer não inspiram mais

Acho que estou farta de falar só da guerra do nosso dia-a-dia, só da tragédia instaurada muito antes da gente nascer e que não vai terminar depois que a gente termine. Estou farta de ver gente vazia com a boca tão cheia de asneiras e pedidos mentirosos de perdão. Cansei, por algum tempo que desconheço a contagem, de não falar do amor, das pessoas e das coisas boas dos dias. Quero falar sobre o amor, sobre como amar, sobre os erros do amor, projetar sobre seus acertos e esquecer um pouco das bombas que explodem e destroçam. Mesmo que as músicas do John Mayer não inspirem como antes.
   
   

30/05/2013

Carta

Encontre alguém para quem você possa dizer isso:


Hoje, muito mais, muito mesmo, que antes estou pronta para te encontrar. Te encontrar sem mesmo talvez nunca ter conversado mais que algumas horas com você. Sem talvez não saber o nome dos teus pais e se tem irmãos.Sem talvez não reconhecer por agora teu extremo valor na contagem dos dias. Já não sei, já errei tanto que tenho medo de não te acertar. Mesmo que eu cogite que você está vindo na hora atrasada, mesmo que eu cogite que você nunca chegue. Te entregar todo o tipo de amor que sinto, todo o tipo de bom sentimento que dá pra depositar em um coração aberto. Sem aquela velha ilusão que o amor só garante dias bons, porém sem esquecer, que graças a ele a gente pode passar pelos grandes desertos ou nas mínimas tempestades, juntos. Juntos em conjunto de dois que são um. Acreditar, por mais bobo que seja, que todos os erros foram justificativas furadas para responderem a forma que um não encaixa exato no outro e que ninguém foi feito exatamente pra ninguém, mas que a gente pode querer seguir um mesmo caminho. Que a tua entrada na história seja como um violão que sozinho começa uma música e depois os outros instrumentos começam a tocar, e um pouco depois a tua voz rompa o solo instrumental. Sei que vou te aceitar junto com teus segredos, junto com o limite de se permitir a sentir saudades, aquele limite bom de não estar sempre e a todo momento juntos. E que as outras lembranças sejam apenas outras lembranças. Suficientemente descobrir que há sempre uma história para ser lida e escrita todos os dias. Uma história que a gente escreve e não apaga, que aquece os dias frios e refresca os quentes. Uma história na qual cabe os erros, os acertos, os pedidos atrapalhados de perdão, os atrasos para chegar em uma festa. Dias de chuva e beijos molhados. Dias com as distrações mais infantis, com apelidos ditos ao pé do ouvido, com tardes perdidas dentro de uma livraria abrindo e lendo apenas trechos de livros ridículos. Uma vida sedentária na correria dos nossos dias apertados.Você não pode ser atrapalhado em demasia, já bastam as minhas topadas do dedo mindinho no canto da estante da sala. Ok, se você também tem histórico de topadas do dedo mindinho, a gente ri junto das nossas pequenas desgraças cotidianas. 
Escutar músicas de amor e lembrar de você. Ver filmes românticos e não encontrar lá o nosso roteiro. Ler histórias de amor e não encontrar lá a nossa. Mas olhar no coração e descobrir teu nome escondido nele. 
Ser doce e azedo. Ser triste e alegre. Ser cheio e vazio. Ser completo e incompleto. Encher o tanque e esvaziá-lo em passeios por ruas desertas, em corridas no mercado, em maratonas de filmes embaixo das cobertas. Ser do tipo a primeira pessoa que vem no teu pensamento e a última antes de fechar os olhos para dormir. Te chamar saudade e te encontrar em um abraço. Viver e morrer todos os dias de amor. Cuidar e proteger. Amar e respeitar. Brigar e pedir paz. Dar o nó na gravata, borrar o batom antes da festa começar. Contar moedas e juntar dinheiro para fazer brigadeiro. E nunca, nunca esquecer de viver tudo que temos para viver, tudo que temos para contar e ser tudo infinito enquanto dure, e se for durar por toda a vida, que seja com você.