31/03/2012

Coisas

já me desapaguei de muitas coisas, já vi que outras decidiram por si mesmas adormecerem e outras por fim morreram. Eu não cresci mais, nem pro lado, nem pra cima, na verdade, eu diminui, o mundo ficou cada vez maior, cada vez mais inexplorado. Não sei mais se existe algo a ser acrescentado, nem se há algo para ser explicado por completo, deixe de lado todo o postulado bobo, tudo aquilo que não adianta, você não sabe porque sente, só sabe que sente. É a incrível experiência de ver o fogo queimar no meio da água, das redundâncias serem cotidianas, de coisas que não fazem sentido, mas que trazem razão. Mesmo com barulho haverá sempre um lugar pra fugir e ficar em silêncio. Virando e revirando páginas de um velho livro, tem tanta coisa que eu vi, mas já me desapaguei de muitas coisas, já vi que outras decidiram por si mesmas adormecerem e outras por fim morreram.

21/03/2012

Ela

                Enquanto ela ouvia mentiras, seu coração jurava que tudo aquilo era verdade, se auto-enganando em um ciclo vicioso de auto-piedade, dizendo que não tinha mais forças para sair de lá, que era melhor permanecer. Qualquer movimento seria brusco demais pro seu coração. Batendo e rebatendo a cabeça na parede, depois de tantas batidas nem sentia mais dor, nem sequer percebia que sujo de sangue seu vestido deixava de ser branco.
                Mais que suja, ela estava cega, surda. Não queria mais ouvir ninguém, mas queria se entregar, se entregar, sem saber que estava se matando. O vestido cada vez mais sujo. Sua respiração se tornou pesada, mesmo assim ainda permanecia suspensa sobre aquela atmosfera que no fundo ela sabia ser errada. Sim, é mais fácil permanecer assim, porém até quando vai ser fácil? Por que se apegar ao que passa e não agarrar com força o que permanece?
                Não vai adiantar seu arrependimento da boca pra fora, se do coração pra dentro não houve sequer uma ponta para admitir que tudo tá errado, e cada vez vai ficar pior. O vestido vai ficando cada vez mais impregnado não só de sujeira, mas de cada palavra esfarrapada, de cada fuga que nunca trás de volta a volta. Recorrendo e correndo dos pecados espalhados pela sala da casa, pelo chão do quarto, pelas cobertas ainda quentes da cama.
                 Sem forças ela se entrega com mais força, com mais vontade, cada dia mais cega. Achando que está voando, quando na verdade está sendo colocada em um buraco cada vez mais fundo. E cada nova pá de terra jogada suja mais o vestido. Até quando ela vai prosseguir desse jeito? Matando e quebrando a vida que antes era melhor, que era não tão cheia de erros atrás de erros. Até quando vai permanecer errada dizendo e enganando o mundo todo e todo mundo que ta certa?
Talvez ela não saiba que o limite vai estourar, as suas dividas serão cobradas, uma vez que toda semente plantada tem sempre junto de si um fruto. Ainda há tempo, mas o que vai acontecer quando o tempo acabar? Tudo que é morno, não esfria, nem tampouco esquenta, nem tampouco muda, nem tampouco trás mudança.  
                Ela precisa voltar. Precisa jogar fora aquele vestido que já está destruído, ganhar novamente novas vestes. Lembrar do que é verdadeiro. Lembrar que a verdade não vai acusá-la, mas aceita-la como está. Transformá-la do jeito que ela se deixou destruir. A verdade vai ser verdade de fato na sua existência.  Por mais longe que ela esteja, ela vai ser encontrada, quando ela quiser ser encontrada, mais uma vez, mais uma nova história poderá ser escrita.

 
                 
                  

07/03/2012

é

a gente encontrou esperança quando todo mundo disse que não tinha jeito, que o paraíso estava em outra direção, mas a gente sentiu o sol aquecer naquela direção mesmo. Primeiro, a gente sentiu frio, depois ficou com fome, só que nossas forças se renovaram, se renovavam. Aí a luz do túnel não era mais luz, era mais frio. Engraçado, todo mundo mandava a gente chorar e a gente dava era mais risada. Nos enquadramos nos desafios mais ridículos, tava a platéia montada e a gente seguiu. E hoje a gente continua fora do esquadro, continua andando na rota que parece contrária ao paraíso, mas a nossa fé manda seguir pra lá, para o lado meio que incompreendido, que aparentemente é sem liberdade, quando na verdade a gente só foi livre depois que se atrelou a isso.A gente largou mão do que seria passageiro e quanto mais se apega ao eterno mais quer ser invadido por amor, quer sentir o calor de ser amado, e principalmente, distribuir o calor de amar.

06/03/2012

precisava dizer que

cheguei e tinha algumas coisas no chão que deveriam estar naqueles antigos lugares altos, enquanto outras insignificantes habitavam os lugares altos. Tratei de pegar e colocar cada coisa no seu lugar, com carinho colhi de volta aquelas flores que me lembram tanto você. E por mais que tudo esteja quieto, que silenciosas as minhas mãos não estejam oferecendo nada, elas pacientemente estão apegadas no que dá certeza, no que é certo. Mesmo que os caminhos insistam em seus acidentes de percurso, mesmo que pensem que eu continuo a mesma, eu não continuo, eu aprendi mais do que eu mostro que sei. Guardo em mim o que foi promessa, o que foi passado e acabou sem acabar comigo. Sim, eu sobrevivi!Chegou o dia que um antes mudou o depois, esclareceu o que foi errado, o que foi acerto, o que ainda desconheço o total. Não me ofereçam o que já passou, eu não quero, porque aprendi que certos suficientes são mentirosos, ilusórios e no fim se transformam em nada. Não, não é isso que vai me aquecer. Não foi isso que aqueceu, de maneira nenhuma vai ser bom o suficiente, e principalmente, o mais certo. Eu sou mais feliz do que pensam que podem me fazer feliz. E hoje apenas agradeço aos passos que errados Deus endireitou, os passos que certos ele me fez pisar e a forma que ele consegue me dizer que ele está fazendo o melhor.