21/03/2012

Ela

                Enquanto ela ouvia mentiras, seu coração jurava que tudo aquilo era verdade, se auto-enganando em um ciclo vicioso de auto-piedade, dizendo que não tinha mais forças para sair de lá, que era melhor permanecer. Qualquer movimento seria brusco demais pro seu coração. Batendo e rebatendo a cabeça na parede, depois de tantas batidas nem sentia mais dor, nem sequer percebia que sujo de sangue seu vestido deixava de ser branco.
                Mais que suja, ela estava cega, surda. Não queria mais ouvir ninguém, mas queria se entregar, se entregar, sem saber que estava se matando. O vestido cada vez mais sujo. Sua respiração se tornou pesada, mesmo assim ainda permanecia suspensa sobre aquela atmosfera que no fundo ela sabia ser errada. Sim, é mais fácil permanecer assim, porém até quando vai ser fácil? Por que se apegar ao que passa e não agarrar com força o que permanece?
                Não vai adiantar seu arrependimento da boca pra fora, se do coração pra dentro não houve sequer uma ponta para admitir que tudo tá errado, e cada vez vai ficar pior. O vestido vai ficando cada vez mais impregnado não só de sujeira, mas de cada palavra esfarrapada, de cada fuga que nunca trás de volta a volta. Recorrendo e correndo dos pecados espalhados pela sala da casa, pelo chão do quarto, pelas cobertas ainda quentes da cama.
                 Sem forças ela se entrega com mais força, com mais vontade, cada dia mais cega. Achando que está voando, quando na verdade está sendo colocada em um buraco cada vez mais fundo. E cada nova pá de terra jogada suja mais o vestido. Até quando ela vai prosseguir desse jeito? Matando e quebrando a vida que antes era melhor, que era não tão cheia de erros atrás de erros. Até quando vai permanecer errada dizendo e enganando o mundo todo e todo mundo que ta certa?
Talvez ela não saiba que o limite vai estourar, as suas dividas serão cobradas, uma vez que toda semente plantada tem sempre junto de si um fruto. Ainda há tempo, mas o que vai acontecer quando o tempo acabar? Tudo que é morno, não esfria, nem tampouco esquenta, nem tampouco muda, nem tampouco trás mudança.  
                Ela precisa voltar. Precisa jogar fora aquele vestido que já está destruído, ganhar novamente novas vestes. Lembrar do que é verdadeiro. Lembrar que a verdade não vai acusá-la, mas aceita-la como está. Transformá-la do jeito que ela se deixou destruir. A verdade vai ser verdade de fato na sua existência.  Por mais longe que ela esteja, ela vai ser encontrada, quando ela quiser ser encontrada, mais uma vez, mais uma nova história poderá ser escrita.

 
                 
                  

Nenhum comentário:

Postar um comentário